O Brasil sediou nesta semana um dos mais importantes encontros sobre cidades inteligentes do mundo. O Smart City Expo Curitiba, que acontece anualmente em Barcelona e pela primeira vez recebeu por aqui uma edição itinerante, promoveu uma intensa troca de experiências sobre ferramentas de gestão que melhoram a qualidade de vida das pessoas. Fui um dos palestrantes e resumirei aqui o que disse.

Entendo que a expressão “smart city” vai muito além do desenvolvimento de aplicativos e sistemas de informação que ajudam os gestores no dia a dia da administração pública. Tecnologia ajuda, mas não é tudo. A palavra-chave é planejamento, algo crítico no Brasil, onde o plano diretor municipal (que serve de base para as políticas públicas) está ausente em aproximadamente 50% das cidades.

Outras questões importantes: lixo é assunto de prefeito e num país com mais de 3.000 vazadouros a céu aberto, nada menos “smart” do que manter lixões em funcionamento. Uma saída inteligente são os consórcios intermunicipais, quando prefeitos unem forças para construir um único aterro sanitário e operar em conjunto logística da coleta, transporte e destinação final dos resíduos. Mais de 35% dos municípios brasileiros vêm recorrendo a esse mecanismo para tratar seu lixo da forma correta.

 

PLANEJAMENTO E VONTADE POLÍTICA SÃO AS SAÍDAS PARA RESOLVER OS LIXÕES

Quando o assunto é entulho, a solução é reciclagem. Há hoje no país 350 usinas transformando restos de obras em matéria-prima para a construção civil, como tijolos, bloquetes, base e sub-base de asfalto.

Apenas no estado de São Paulo, merecem destaque os exemplos de São José do Rio Preto (que economiza 1 milhão de reais por ano reciclando entulho) e Jundiaí (que processa 200 mil toneladas por mês).

A tragédia sanitária da falta de saneamento poderia ser atenuada, em municípios menores, replicando uma tecnologia de baixo custo que há décadas transforma os excrementos dos animais em biogás.

Em Petrópolis (RJ), a companhia privada de água e esgoto instalou biodigestores em várias comunidades de baixa renda, obtendo sucesso na remoção de até 85% da matéria orgânica graças à ação das bactérias presentes no próprio esgoto, sem produtos químicos ou energia elétrica. O biogás é canalizado para escolas ou associações locais e são os próprios moradores que zelam pela integridade do sistema.

A lista vai longe. As soluções existem. E não há nada mais inteligente na gestão pública do que vontade política.

 

Fonte: Folha de S.Paulo.



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